Saúde mental no trabalho, de acordo com a Organização Mundial da Saúde, é “um estado de bem-estar em que o indivíduo está ciente de suas próprias habilidades, pode enfrentar as tensões normais da vida, pode trabalhar de forma produtiva e frutífera e é capaz de contribuir com a sua comunidade”.
Discutir sobre saúde mental é de extrema importância, pois hoje no Brasil tem-se que 50 milhões de pessoas que sofrem com algum tipo de transtorno mental, seja depressão, ansiedade, transtorno obsessivo compulsivo, transtorno de personalidade borderline, transtorno afetivo bipolar, síndrome de burnout, entre vários outros.
Mas o que a saúde mental tem a ver com a minha empresa?
Adentrando no contexto organizacional, a OMS alerta que, no Brasil, transtornos mentais e comportamentais são a terceira causa de incapacidade para o trabalho e uma a cada cinco pessoas podem sofrer de algum problema de saúde mental no ambiente organizacional. Além disso, os transtornos depressivos e de ansiedade custam 1 trilhão de dólares à economia global a cada ano em perda de produtividade.
Quando falamos em perda de produtividade, falamos não apenas de absenteísmo, que é a falta do colaborador ao trabalho, mas também do presenteísmo, no qual o colaborador comparece ao trabalho, mas não se dedica totalmente às suas atividades, entregando menos resultados.
Nesse sentido, é correto falar que pessoas saudáveis e felizes produzem mais e melhor.
O Burnout – esgotamento profissional
Muito conhecido no meio corporativo, o Burnout, ou síndrome de esgotamento profissional, é um distúrbio psíquico caracterizado pelo estado de tensão emocional e estresse provocados por condições de trabalho desgastantes e fruto do estresse crônico no local de trabalho.
Seus sintomas são:
- Dor de cabeça
- Perda do sono
- Déficit de concentração
- Lapsos de memória
- Baixa autoestima
- Pessimismo
- Sensação de desesperança
- Agressividade,
- Isolamento,
- Irritabilidade.
Importante destacar que, para se configurar síndrome de burnout ou qualquer outro distúrbio, o indivíduo deve apresentar vários dos sintomas característicos, de acordo com o que consta na Classificação Internacional de Doenças (CID), ou seja, apenas dor de cabeça e perda de sono, por exemplo, não necessariamente apontam para um transtorno mental, podendo ser sintomas decorrentes de outros fatores, sejam eles relacionados ao trabalho ou não.
No trabalho, existem alguns fatores de risco que podem gerar uma piora na saúde mental das pessoas:
Políticas inadequadas de saúde e segurança, más práticas de comunicação e gestão, pouca participação na tomada de decisões, baixos níveis de apoio aos funcionários, horas de trabalho inflexíveis, tarefas obscuras ou objetivos organizacionais duvidosos, assédio moral e sexual, não identificação com as atividades desempenhadas ou com a cultura e valores da empresa, não possuir as habilidades e competências para o cargo ou função que desempenha, entre outros.
Ou seja, se o colaborador não tem as condições adequadas para desenvolver seu trabalho, não consegue entender porque o faz.
Não possuir uma liderança aberta a orientação e diálogo ou sofrer algum tipo de abuso, pode acarretar no desenvolvimento de algum transtorno psicológico, que vai afetar o seu colaborador dentro e fora da empresa, o que implica que, além do sofrimento gerado enquanto pessoa, irá gerar a perda de produtividade e impactos financeiros comentados anteriormente.
É imprescindível que as empresas olhem para a saúde mental dos colaboradores como uma das suas maiores prioridades.
Mas a boa notícia é que, da mesma forma que tem-se fatores de risco, também existem fatores de proteção para preservar a saúde mental dos colaboradores, ou seja, muitas ações podem ser tomadas, tanto por parte das empresas e gestores, quanto dos próprios colaboradores.
Para empresas:
- Possuir uma cultura acolhedora é fator de proteção para a saúde mental dos colaboradores, pois se sentem bem no ambiente de trabalho, não sendo apenas uma obrigação que eles têm para “pagar as contas no final do mês”, mas sim um local que eles realmente gostam de estar.
- Promover rodas de conversa e webinares sobre saúde mental para que eles recebam informação de qualidade e saibam que a empresa está preocupada com essa questão, e para que o assunto deixe de ser um tabu.
- Proporcionar ginástica laboral ou outra prática de alongamento ou atividade física na empresa, e incentivar a participação dos colaboradores, de forma que eles parem alguns minutos do seu dia para respirar, relaxar e depois retornar ao trabalho.
- Atendimento psicoterapêutico é de extrema importância, seja ele dentro da própria empresa, ou por meio de plataformas ou convênios que a empresa proporciona, pois psicoterapia é o mais indicado tanto em casos de distúrbios emocionais já diagnosticados como para prevenção destes.
- Possuir um controle das horas extras realizadas também é de responsabilidade das empresas, pois uma carga muito intensa de trabalho pode acarretar em altos níveis de estresse e outros sintomas, bem como reduzir o tempo que o colaborador possui para suas atividades pessoais, que podem ser fator de proteção para saúde mental (falaremos mais abaixo).
- Fornecer uma estrutura física adequada para o trabalho, salário apropriado para a função e benefícios competitivos com o mercado são imprescindíveis também.
- Toda empresa deve possuir uma hotline ou canal de denúncias para casos de assédio moral, sexual ou quaisquer outras situações dignas de serem relatadas, para que o colaborador tenha a quem recorrer nesses casos.
Para gestores:
- Ser transparente, deixar claras suas expectativas, fornecer feedbacks e treinamentos e manter um canal aberto de comunicação são excelentes formas de agregar na saúde mental dos colaboradores.
- Da mesma forma, estabelecer metas e objetivos alcançáveis e celebrar pequenas conquistas ajudam a manter a equipe motivada, engajada e feliz.
- Importante também respeitar o horário pessoal do colaborador, evitando contatá-lo fora do expediente ou aos finais de semana.
- Por fim, o gestor deve estar sempre atento aos comportamentos e nível de engajamento do time, para detectar possíveis sintomas, e também deve tratar do assunto “saúde mental” com naturalidade e evitar julgamentos, para que os colaboradores se sintam a vontade de conversar a respeito.
Para colaboradores:
É importante também que os próprios colaboradores se cuidem.
- Atividade física, alimentação saudável e sono regulado são fundamentais não apenas para saúde física, mas também mental. Da mesma forma, dedicar um tempo de qualidade para as pessoas amadas e ter relacionamentos saudáveis dentro e fora da empresa, além de dedicar um tempo só para si, com algum hobby ou meditação, por exemplo, é essencial.
- Todos devem saber que podem e devem buscar ajuda. Psicoterapia, como mencionado anteriormente, é a melhor forma de se prevenir e cuidar da saúde mental.
- Caso necessário, a pessoa pode ser encaminhada a um psiquiatra para uso de medicação. Sabemos que o uso de medicamentos em caso de transtornos psíquicos ainda é um tabu, mas precisa ser desmistificado, pois é uma forma de autocuidado também, desde que realizado com acompanhamento médico.
Texto: Marina Piran – Psicóloga e Analista de Rh na AsQ